quinta-feira, 2 de maio de 2013

Diálogo(?) entre pai e filha IV: Sessão de Terapia

- Pai, eu tenho uma pergunta.
 
Não, não começou assim. Ao contrário do irmão, a Manoela não tinha uma pergunta. Quem tinha a pergunta era eu.
 
Explico. Aos sete anos de idade, Manoela começou a apresentar alguns comportamentos, digamos, "destoantes da normalidade" para os padrões atuais. "Caso para psicólogo", sentenciaram os arautos da sociedade moderna. 
 
Na época dos nossos avós, um bom castigo dava jeito. E não custava nada. E ninguém morreu. Todos cresceram e viveram suas vidas.
 
Hoje em dia, é caso para psicólogo. E é caro. E o pior: com ou sem ele, ninguém morrerá, todos vão crescer e certamente irão viver suas vidas.
 
O problema é que hoje existe o tal psicólogo. Não basta a criança ter que fazer natação, balé, futebol, judô, curso de inglês e espanhol. Tem que fazer análise também.
 
Dasabafos à parte, os comportamentos ditos "destoantes da normalidade", no caso, eram uma baixa autoestima e ciúme excessivo do irmão. Fora alguns ataques de pirraça quando contrariada. Ah, e tem as orelhas. Não podem ficar de fora, o cabelo tem que tapá-las. Não sei se isso é um comportamento "destoante da normalidade", mas já que vai fazer terapia, aproveitamos para embutir no pacote, pelo sim, pelo não.
 
É isso mesmo que você leu: baixa autoestima, ciúme e complexo com as orelhas.    
 
Fico imaginando se eu fosse criança nos dias de hoje. Tímido, calado, introspectivo. Meus melhores amigos eram os livros e meus botões. Acredito que seria caso pra psiquiatra.
 
Mas, enfim, lá fomos nós, eu e a mãe dela, atrás da psicóloga.
 
Sempre nutri uma curiosidade pelas sessões de terapia. Pensei até em fazer. Não que eu ache que tenha algum comportamento "destoante da normalidade". Pode ser que eu tenha e não saiba. Também não tenho interesse pelo autoconhecimento (eu sou isso mesmo que eu sou e pronto, paciência). É pura e simples curiosidade.
 
Será que tem um divã? Será que o psicólogo fica sentado, mudo, com semblante sério anotando coisas a meu respeito num caderninho? Será que ele diz no final "nosso tempo acabou"? O preço das sessões, contudo, sempre falou mais alto do que a minha curiosidade.
 
E agora estava eu lá, a caminho de uma analista. Não para mim, mas para minha filha de oito anos. Ah, as coisas que a gente não faz pelos filhos!
 
Não, não tinha um divã. Nem um caderninho. E ela não era muda, pelo contrário, falava bastante. E no final não disse "nosso tempo acabou". Disse: "a consulta custa tanto."
 
Voltando a tal pergunta que eu tinha no inicío do texto.
 
- Filha, como foi a sua sessão com a psicóloga?
- Pai, não posso falar, né, é sigiloso!
 
Pois é. É sigiloso. Ainda por cima eu não posso saber nada que se passa lá no consultório da analista falante.
 
Só me resta torcer para que Freud explique e melhore (Oxalá cure) os comportamentos ditos "destoantes da normalidade" da minha filha. Que ao final da terapia ela possa, pelo menos, usar um rabo de cavalo.
 
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
 
PS: Esta crônica foi escrita em fevereiro e o cronista precisa fazer justiça. O negócio funciona. Com menos de três meses de terapia, minha pequena está bem mais calma e extrovertida. As orelhas, contudo, permanecem tapadas. E continuo sem saber o que se passa na sessão. Mas recomendo. De repente, quando ela tiver alta, quem sabe não será a minha vez? Já estou com inveja...   
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário