segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Inverno sombrio


O dia: uma segunda-feira em meio ao inverno.

A hora: por volta das nove da manhã.

O lugar: cadeira do ônibus da linha 226 (Grajaú / Carioca).

Os personagens: este pobre narrador e a mulher ao seu lado.

O fato: Quando o celular da mulher sentada ao meu lado começou a cantar “Pre-pa-ra, que agora é hora... ” pressenti que o que viria depois não seria muito agradável. Mas não esperava nada igual a isso.


“ Alô. Quié Vanessa, não vem me encher o saco de novo com essa história de fotografia para modelo. Esse cara não presta, não vale nada, tá de caô pra cima de você. Eu já te falei pra você que não vou deixar e pronto. Quê? Teu pai? Tu não vai fala nada pro imprestável do teu pai, olha aqui menina, aquele cachaceiro não serve pra nada, tu mermo já falou isso e agora vai pedir pra ele? Como é tu já pediu? Ele deu ?! Mas tu é muito abusada mermo, né ? Mas eu vô mete a mão na cara deste cafajeste, pagá a tua pensão quié bom nada, aí ele acha que tem autoridade pra te deixá fazer o que não pode, desgraçado ... e escuta aqui menina tu não vai tirar essa foto tá me ouvindo... Tu quer dinheiro pra quê? Pra pintá o cabelo de louro? Tu endoidô garota? Tu é criola, vai pintá esse pichaim de louro, vai ficar com cara de quenga!!! Alias pra que qui é mermo essas foto ?

Vanessa, eu vô sair mais cedo do trabalho, tu me espera em casa que a gente vamo conversar sério... e avisa pro infeliz do teu pai que vô cobrar a pensão do desgraçado na justiça. E tu tá de castigo!! Um mês no mínimo sem baile funk!!”

 
O fim (enfim): Quando ela desligou o celular, ameaçou falar alguma coisa comigo, mas dei um pulo da cadeira, levantei e desci do ônibus.
 
Eram uns dois pontos antes do meu, mas a caminhada iria me fazer bem.

 

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