O dia: uma segunda-feira em meio ao
inverno.
A hora: por volta das nove da manhã.
O lugar: cadeira do ônibus da linha 226
(Grajaú / Carioca).
Os
personagens: este
pobre narrador e a mulher ao seu lado.
O fato: Quando o celular da mulher sentada
ao meu lado começou a cantar “Pre-pa-ra, que agora é hora... ” pressenti que o
que viria depois não seria muito agradável. Mas não esperava nada igual a isso.
“ Alô.
Quié Vanessa, não vem me encher o saco de novo com essa história de fotografia
para modelo. Esse cara não presta, não vale nada, tá de caô pra cima de você.
Eu já te falei pra você que não vou deixar e pronto. Quê? Teu pai? Tu não vai
fala nada pro imprestável do teu pai, olha aqui menina, aquele cachaceiro não
serve pra nada, tu mermo já falou isso e agora vai pedir pra ele? Como é tu já
pediu? Ele deu ?! Mas tu é muito abusada mermo, né ? Mas eu vô mete a mão na
cara deste cafajeste, pagá a tua pensão quié bom nada, aí ele acha que tem
autoridade pra te deixá fazer o que não pode, desgraçado ... e escuta aqui
menina tu não vai tirar essa foto tá me ouvindo... Tu quer dinheiro pra quê?
Pra pintá o cabelo de louro? Tu endoidô garota? Tu é criola, vai pintá esse
pichaim de louro, vai ficar com cara de quenga!!! Alias pra que qui é mermo
essas foto ?
Vanessa,
eu vô sair mais cedo do trabalho, tu me espera em casa que a gente vamo
conversar sério... e avisa pro infeliz do teu pai que vô cobrar a pensão do
desgraçado na justiça. E tu tá de castigo!! Um mês no mínimo sem baile funk!!”
O fim
(enfim): Quando
ela desligou o celular, ameaçou falar alguma coisa comigo, mas dei um pulo da
cadeira, levantei e desci do ônibus.
Eram uns
dois pontos antes do meu, mas a caminhada iria me fazer bem.
Muito boa.
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