quarta-feira, 27 de março de 2013

Diálogo entre pai e filho III - Peitos masculinos

- Pai, eu tenho uma pergunta.

Um leve arrepio percorreu minha cervical e as rugas tomaram conta de minha testa. O João tinha uma pergunta. Lá vamos nós de novo.

Eu juro que se soubesse - nem precisava ser uma certeza, uma desconfiançazinha bastava - que um dia eu seria pai do João (não um João qualquer, falo especificamente do MEU João), teria estudado mais. Menos musculação e mais Biologia. Menos violão e mais Química. Menos bola e mais Conhecimentos Gerais.

Sim, porque as perguntas são variadas. Já tive que responder como a eletricidade passa nos cabos pendurados nos postes de luz. Se um braquiossauro é onívoro ou carnívoro. Como que o Indiana Jones nunca perde o seu chapéu no meio da ação.

Enfim, confesso que não me preparei o suficiente para ser pai do João. Pelo menos no que tange a parte intelectual.

Mas voltando ao início do texto, o João tinha uma pergunta. Respirei fundo, fechei os olhos e rezei um Pai-Nosso.

- Fala, filho.
- Por que nós, homens, temos peitos?

A pergunta era inusitada e me pegou de surpresa (novidade).

- Ué, todo mundo tem peito, faz parte do corpo humano, assim como qualquer outra...
- Pai, mulher ter peito, tudo bem, serve para amamentar os bebês, mas os homens não amamentam.
- Graças a Deus, né filho, já pensou sair leite dos nossos peitos...
- Exato! Se o peito no homem não tem função, por que nós o temos?

Ok. Chegamos àquele momento onde, ou o pai confessa toda sua ignorância suprema sobre os grandes mistérios da humanidade, com um simples "não sei", ou ele tenta enrolar, o que tem tudo para dar errado. E deu.

- João, não tem explicação, existem outras partes do nosso corpo que também não têm função.
- Por exemplo?
- ...
- Fala, pai, que outra parte do nosso corpo não tem função?
- O umbigo! Um buraco no meio da barriga! Serve pra quê? Pra nada!

Respondi, orgulhoso de mim mesmo, triunfante como um tenista que acaba de aplicar um winner no adversário.

- Pai, o umbigo era onde ficava o cordão umbilical, que ligava a gente à nossa mãe, quando estávamos dentro da barriga dela. É por onde passavam os nutrientes, a água e o oxigênio. Quando a gente nasce ele é cortado, e fica o umbigo. Então, já teve função um dia. Mas os peitos nos homens nunca tiveram função, nem nunca vão ter!  

É verdade. "Menos musculação e mais Biologia", pensei. Por que o homem tem peito? Nunca havia pensado nisso. E agora a questão me era enfiada goela adentro de meu deficitário cérebro.

Juro que pensei em falar alguma coisa a respeito das glândulas mamárias, mas desisti. Ia acabar falando outra bobagem, assim como o exemplo do umbigo.

Pensei em falar sobre o apêndice (até onde eu sei ainda não descobriram sua função). Mas fiquei com receio dele me fazer outras vinte perguntas sobre o referido órgão (o apêndice é um órgão?) cujas respostas eu certamente não saberia responder. Afinal, o que há para se saber acerca do apêndice?

Só me restou concordar com o João.

- É filho, me parece que você tem razão. Mas o papai não estudou muito biologia. Faz assim: quando as aulas retornarem, pergunta pra sua professora de ciências.
- Ok.

Encerramos por aí. Olhei para os meus peitos grandes e peludos. Realmente não serviam para nada. Confesso que estou curioso para saber o que a professora responderá.
 

quinta-feira, 21 de março de 2013

No parquinho

- Olá, você vem sempre aqui? Pedrinho, sai do lago!

- Não. Costumo ir no parquinho do parque Laje. Maria Augusta, devagar nesse balanço.

- Ah, sim, lá é bom também. Mas se anda pouco. Pedrinho, já mandei sair de dentro do lago!

- Se anda pouco?

- É. Aqui no Jardim Botânico anda-se um bocado até chegar ao parquinho. Aí o Pedrinho fica mais cansado. Com sorte, até tira um soninho quando chega em casa.

- Entendi... Maria Augusta sai de cima da amiguinha!

- Quantos anos ela tem?

- Seis. Seis anos sem dormir.

- Entendo perfeitamente. Pedrinho, larga o peixe! E já mandei você sair do lago duas vezes. Não me faça pedir a terceira! Ela não quis ir no parque Laje hoje?

- Não. Ficou traumatizada. Na última vez, se perdeu na gruta. Maria Augusta, esse pedaço de pau não é espada, solta isso!

- Coitada. É, também não tenho boas recordações de lá. O lago dos patos.

- O Pedrinho se afogou?

- Ele, não. O pato. Mais um pouco e o pobre do bicho quase tem o pescoço torcido. Pedrinho, SAI DO LAGO!

- Ele gosta mesmo de água, né?

- Suja. Porque pra tomar um banho...A Maria Augusta é aquela jogando areia na cabeça do bebê?

- Não, é a que está do lado, rindo do choro do bebê. O Pedrinho eu sei quem é, já que só tem uma criança dentro do lago. É aquele de blusa marrom.

- Branca. Quando saiu de casa era branca.

- Bota de molho no Coquel. Maria Augusta, vamos embora AGORA! O carrinho do bebê não é carro de corrida. Tchau, a gente se vê por aí.

- Ok. Pedrinho vou contar até três pra você sair desse lago! Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Vamos correr!

Correr. A língua portuguesa o classifica como verbo intransitivo, quando não precisa de um complemento (quem corre, corre); ou transitivo indireto, quando há um complemento, no caso, uma preposição (quem corre, corre de alguém/algo ou com alguém/algo).

Isto posto, confesso que eu sempre quis correr (como verbo intransitivo, diga-se de passagem). Sempre invejei aquele monte de gente correndo as maratonas, as pessoas correndo de short e camiseta com o fone de ouvido nas pistas da cidade.

Então, por que não correr? Qualquer coisa servia de desculpa: falta de tempo, preguiça, os joelhos (tendinite patelar).

Até que um dia, pedi licença aos meus joelhos, e decidi: vou correr! E comecei. Na esteira da academia, com ar condicionado, mas isso é só um detalhe.

O exercício tinha que durar quarenta minutos. No primeiro dia, não consegui correr nem cinco. No segundo, atingi a fabulosa marca dos cinco minutos. Com a língua pra fora, quase infartando.

E por aí foi. O que me entusiasmava era que a performance (falei bonito) realmente melhorava a curto prazo. A cada dia conseguia correr mais um pouquinho.

Ao final de seis meses, já estava correndo os quarenta minutos, perfazendo uma média de 5 Km aproximadamente. Me empolguei e fui investigar quantos quilômetros havia para se completar a meia maratona. Murchei igual flor quando descobri que eram "apenas" 21 KM. Faltavam "só" 16. Mas o joelho começou a incomodar e parei.

Após três meses sem correr, e com o joelho descansado, resolvi me aventurar por outras bandas. Troquei a academia pelas ruas da Tijuca (Andrade Neves e Homem de Melo). Esse cantinho no fim da Rua Uruguai, no pé da montanha, fica cheio de "atletas de rua", parecendo a Lagoa Rodrigo de Freitas ou o calçadão de uma praia qualquer. Tudo bem que não tem a lagoa nem a praia, mas, enfim, cada um com o seu cada um.

E lá fui eu novamente. A primeira impressão que tive, é que os companheiros de rua parecem se dividir em dois grupos: no primeiro, os gordinhos que caminham; no segundo, os magros que correm. Tentei me enquadrar em um dos grupos, mas não consegui. Estava mais magro que os gordinhos e mais gordo que os magros. Criei, então, o meu grupo particular, do qual acho que só eu faço parte: o dos gordos que emagreceram um pouco e acham que conseguem correr na rua.

Sim, porque da esteira na academia pra rua vai uma distância beeem grande. Na esteira não tem buraco, carro, pedestre, cocô de cachorro e afins. E na rua não tem ar condicionado.

E nesse percurso ainda tem uma baita ladeira pra subir. Resumindo: no primeiro dia corri 20 minutos, dei duas voltas e meia. Acho que não fui tão mal. E o joelho tá legal!

Quem sabe em alguns meses eu consiga mudar para o grupo dos "magros que correm". A meia maratona é o limite.

Se bem que entrar para o grupo dos "gordinhos que caminham" também não deixa de ser uma opção.

Ou então volto para a esteira da academia, com ar condicionado, local em que os meus joelhos se sentem mais confortáveis.       

quarta-feira, 6 de março de 2013

Em tom maior: o Mi e o Lá

Em Lá menor começo a melodia.
Quando a tristeza toma conta do dia.
Nascendo uma canção sobre alguém, com um amor não correspondido.
Que vem lá de dentro do ventre de um coração partido.

Alterno Ré menor com Dó.
E canto toda a dor de quem ficou só.
Pois tal como um pássaro mortalmente ferido.
Não consegue enxergar na vida mais qualquer sentido.

Evito em tom maior, o Mi e o Lá.
São notas felizes, não parecem encaixar.
Mas o Sol intercalado com o Mi menor.
Embalam a melodia, cujo tema sabemos de cor.

Assim vou tocando. Cantando. Dedilhando as cordas do meu violão.
Quando percebo que chegou a hora de criar um refrão.
Nestas horas sempre me socorro com o Fá.
E um parceiro para ele, começo a buscar.

Acho que bem fluirá se eu puser um Lá.
Não o maior, esse já disse que não dá.
Mas o menor, que dá o tom da melancolia.
Pronto: Fá com Lá menor. E assim escondemos a alegria.

E para esta canção terminar com um tom mais colorido.
Nada melhor do que um Si sustenido.
E a letra lembrará que o sol continuará a brilhar.
E que tudo passa. E esta canção também passará.

Para que um dia possamos resgatar.
Aquelas notas felizes, que hoje não pudemos usar.
Em tom maior: o Mi e o Lá