- Pai, eu preciso aprender a tocar um instrumento!
A frase me pegou no meio de um engarrafamento no elevado Paulo de Frontin, em direção ao Túnel Rebouças.
Voltávamos da Gisele, dentista do João, cujo consultório fica na Tijuca. O trânsito era caótico por volta das dez horas da manhã. Como aliás acontece em praticamente toda a cidade do Rio de Janeiro, em qualquer hora do dia.
O problema parecia ser de resolução simples. Na escola do João eu havia visto uma propaganda qualquer, colada numa parede qualquer, informando alguma coisa qualquer sobre aula de instrumentos musicais.
Simples, assim como a minha resposta:
- Ok, vamos ver se na escola tem aula de violão.
Tudo muito simples.
Como a vida deveria ser.
Deveria.
Mas a vida não é o que deveria ser.
A vida é o que é.
E simples, o João também não é.
O que eu não me dei conta na hora, é que a minha resposta não era apenas simples (para um suposto caso simples). Era também egoísta.
Sim, pois acabei decidindo o que ele deveria aprender a tocar.
E não é assim que as coisas funcionam com o João. Por que simplificar se podemos complicar?
- Pai, eu não quero tocar violão.
Ok, a conversa já estava tomando o rumo da complexidade. Não sei por que me surpreendo ainda. - E esse trânsito que não anda!
- Mas filho, violão é maneiro, as gatinhas se amarram num cara tocando "Patience" dos Guns´n Roses.
A música era nossa conhecida, vivia no rádio do carro.
- Pai, violão é muito comum. Todo mundo toca. Eu quero tocar algo mais sofisticado.
Pronto: alguma coisa me dizia que eu não iria gostar de saber o que ele queria tocar.
Tentei desviar o assunto, quando passamos por três carros batidos, polícia, ambulância do corpo de bombeiros e um monte de gente parada na pista da direita, o motivo do engarrafamento.
O trânsito finalmente andou, e começamos a especular como teria sido a batida, se havia gente machucada, etc. Aí ele começou a falar que este era o lado bom de eu dirigir na velocidade de uma tartaruga, pois assim não bateria nunca com o carro, blá, blá, blá...
O fato é que o papo se estendeu até a garagem de casa.
Intimamente, estava orgulhoso da minha tática que havia dado certo, pensei que a história do instrumento musical estava esquecida.
Mas a vida não é simples (acho que já escrevi isso). A porta de casa ainda nem bem havia se fechado atrás de nós, quando veio o golpe mortal:
- Pai, eu quero tocar saxofone!
Ora ora....simples assim, pai!
ResponderExcluirExcelente....
João Carlos
Sendo quem ele é, não poderia ser diferente.
ResponderExcluirJo e Paulo
Saxofone não é muito bom para quem usa aparelho ortodôntico.
ResponderExcluirGisele, dentista do João
Me acabei de rir!!
ResponderExcluirEsse Joao! Aguenta o tranco, filho inteligente eh isso mesmo!
Eh seu dever dar asas!!!
Natalia
Adorei o post e os comentários!! kkkkk
ResponderExcluirDedé, saxofone tb é um charme!! Rrsr
bjssss
Camila