A vida às vezes nos dá um presente.
E quando ganhei este fiquei muito contente.
Enquanto os anjos do céu festejavam sua chegada com euforia,
Meu coração pulsava de alegria.
O nosso reencontro já estava escrito em algum lugar.
Talvez nas estrelas. Talvez na areia do mar.
E com a benção do Nosso Senhor,
Abracei minha pequena menina com muito amor.
Difícil foi escolher o nome dela.
Poderia ter sido Gabriela. Ou Isabela.
Mas quis o destino que se chamasse Manoela.
Às vezes Manu, mas pra sempre Manoela.
E a minha pequena é a princesa mais bela.
No meu reino ninguém brilha mais do que ela.
Branca como a neve, linda como uma flor.
Moleca sapeca, pra sempre meu amor.
Aos anjos do céu me dirijo em oração,
Rogando sempre pela sua proteção.
E se os percalços da vida lhe afligirem o coração,
Cá estará o paizinho, sempre pronto a segurar sua mão.
E nenhuma poesia, ainda que seja a mais bela,
Expressará o tamanho do amor que sinto pela minha Manoela.
"A literatura e a poesia são as palavras que colocamos no vazio. Um gesto: no lugar da ausência, um ramo de hortênsia." (Cassiano Ricardo)
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Em algum lugar do passado
Em algum
lugar do passado, ficaram palavras e canções.
Algo que
deveria ser dito restou prisioneiro, numa boca que não se abriu.
Palavras
silenciaram e rugas de preocupação nasceram, num rosto que não sorriu.
Em algum
lugar do passado, morreram histórias e civilizações.
Estrelas
se apagaram e o céu, de luto, ficou de mal.
Livros
perderam as páginas, deixando os contos sem final.
Em algum
lugar do passado, imagens e rostos foram esquecidos.
Pássaros migraram, mas não regressaram.
E rastros
perdidos, no caminho deixaram.
Em algum
lugar do passado, decisões e caminhos foram escolhidos.
E então, restaram enterrados, lugares não visitados.
Mares não
navegados. Objetivos não alcançados.
Em algum
lugar do passado, amores ficaram desconhecidos.
Nas páginas do livro que não foi lido.
Na letra
da canção que não foi ouvida.
Na carta
de amor que não foi escrita.
No sonho
que não foi vivido.
Em algum
lugar do passado, o presente foi formulado.
Com todos os acertos e erros, que não conhecíamos no passado.
E então,
quando olho para o futuro, volto ao passado, e me deparo com o presente.
E tenho a sensação de que, por conta do presente, muito se perderá, lá na frente.
Palavras,
canções, histórias e civilizações.
Imagens,
rostos, caminhos e decisões.
Amores, sonhos,
cartas e paixões.
Tudo
ficará perdido ou abandonado, em algum lugar do passado.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Advérbio de Negação
Não
corra.
Talvez
alguns minutos não façam tanta diferença.
De fato, nada cai do céu.
Não se
empolgue.
A
frustração existe e tá aí pra isso mesmo.
Não pense
que nada presta
Sempre há
alguma coisa que pode ser útil.
Não
desanime.
Vai que
um dia a sorte resolva lhe sorrir.Pense. Você não é um robô.
Não
discrimine o que você não conhece. Se informe.
Se não
concordar, respeite.
Não se
entregue.
Morra
tentando.
Não perca
a esperança.
Vai haver
sempre alguém para lembrar que ela é a última que morre.
Não
chore. Pelo que não vale a pena.
Se for
ajudar, chore. De preferência, no colo de alguém que te ama.
Não
brigue. Converse.
Se não
der, silencie.
Não diga
nunca.
O mundo
dá voltas.
Não
escreva. Leia.
Não leia.
Escreva.
"Não posso, não sei, não sou capaz."
Não se
subestime.
"Não vai dar certo."
Não seja
pessimista. As chances são de 50%.Viva.
E antes
de dizer não, reflita.
De
repente, quem sabe.quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Real Madrid
A mulher andava de um lado para o outro do
quarto, trocando de roupa sem parar. Nenhuma lhe agradava. Até que parou num
vestido colado no corpo listrado de preto e branco.
O marido, sentado no sofá da sala, assistia a uma
partida de futebol na TV. Seu time, o Real Madrid, jogava contra o Valencia.
Mas, vendo o tira e põe de roupa de sua patroa, começou a ficar preocupado.
Então, aquilo que ele tanto temia aconteceu. A
mulher se dirigiu até a sala e fez a pergunta maldita:
- Amor, este vestido está bom ?
Quem é homem (notadamente casado) sabe.
Nenhuma, absolutamente nenhuma resposta que se dê
a essa pergunta, será satisfatória. Na verdade ela deveria ser proibida em
algum Estatuto, Lei, Constituição Federal, sei lá.
O Padre deveria advertir sobre isso nos cursos de
Noivos. Ou deveria ter constado lá na Tábua dos Dez Mandamentos (que virariam
onze): “Jamais perguntarás ao marido se a roupa está boa.”
Sim, porque isto não é uma pergunta: É uma
declaração de guerra ! Tá chamando pra briga. É como quem diz: escolha suas
armas!
O tempo parou naqueles breves segundos que se
sucederam a pergunta. O cérebro do marido pôs-se a funcionar na velocidade de
um Fórmula 1, para tentar encerrar rápido aquilo que poderia ser o início do
fim. Rezando a todos os Santos para que a resposta fosse satisfatória,
disparou:
- Tá linda, amor !
Poderia ter dado certo. Mas
não foi o caso.
- Mas você é um cretino mesmo. Como pode me dizer
isto se nem me olhou ! Não tirou os olhos da TV nem um instante. Não pode parar
um segundo de ver este maldito jogo de futebol, para olhar sua esposa. Eu sei
que você só disse isso para me dispensar logo e continuar a ver essa porcaria
de futebol.
A resposta teria sido razoável. Se o marido não
tivesse cometido este pequeno deslize. Esqueceu de olhar para ela. Mas, se
tivesse olhado, faria alguma diferença ? A resposta não teria que ser a mesma ?
Se ele tivesse olhado e dito a verdade, que ela parecia um boneco de neve vestido
de presidiário, não teria sido muito pior ? O suor começou a brotar em sua
testa.
Agora, já olhando para ela, tentou consertar a
situação.
- Meu bem, eu não preciso nem te olhar pra saber
que você fica linda de qualquer jeito.
Pronto. Agora acabou mesmo. Foi piegas demais.
Foi falso demais. Foi ruim demais.
- Você não me ama mais. Aliás, acho que você
nunca me amou. Vou agora mesmo fazer as malas. Estou saindo de casa. Nosso
casamento acabou. E a culpa é sua !
Enquanto a mulher fazia as malas, o marido
continuou sentado no sofá, assistindo ao jogo. O Real Madrid precisava vencer,
senão o título do campeonato seria conquistado pelo Barcelona, com duas rodadas
de antecedência. Isso no momento era o que importava para ele.
De repente, uma questão passou pela sua cabeça.
Aonde a mulher iria com aquele vestido de presidiária, antes de resolver
terminar com ele ?
Quando a mulher chegou na sala se despedindo, com
duas malas e o travesseiro, ele resolveu, então, lhe perguntar.
- Eu ia ao mesmo lugar que vou agora. Para a casa
de meu amante. Só que antes eu ia lá só dar umazinha. E depois estaria de
volta. Agora, por sua culpa, não voltarei mais. Você não me deu escolha.
A ex-mulher foi embora. O Real Madrid abriu o
placar.
O ex-marido deu um sorriso de canto de boca. As
coisas pareciam estar começando a dar certo.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Deuses Mortais - Um diálogo entre pai e filho
No
caminho para a natação, João fez uma pergunta. Que se transformaram em outras,
sei lá, dez. Claro, senão não seria o João.
Começou
assim:
- Pai,
eu tenho uma pergunta. Os Deuses não são imortais ?
- Sim.
- Então como é que iam matar o Odin,
enquanto ele dormia ?
- Matar quem ?
- Odin, o pai do Thor.
- Bom,
quando ele está no chamado “Sono de Odin”, fica vulnerável, aí seus inimigos
aproveitam para tentar matá-lo.
Ou seja,
dei uma enrolada. Torci para que a resposta fosse satisfatória, mesmo sabendo
que não tinha respondido sua pergunta. Foi o que, às oito horas da manhã, deu
para responder.
Mas, se
assim o fosse, não seria o João.
- Pai, você não respondeu minha pergunta.
- Você perguntou COMO iam matar o Odin, e eu
respondi.
- Não, pai, eu quero saber como iam matar
alguém que não pode morrer.
Exato.
Como é que eu nunca havia pensado nisso antes. E agora, o que dizer ? Como bom
capricorniano, não me dei por vencido, apesar de um simples “não sei” parecer o
caminho mais rápido para ter encerrado a discussão.
-
João, é o seguinte, eles são imortais se ninguém conseguir matá-los.
- Então, eles morrem ?
- Sim, se conseguirem matá-los.
- Então, eles não são imortais.
- Se os matarem, não. Se não os matarem, são
imortais.
O
silêncio que se seguiu me encheu de esperança de ter conseguido encerrar o
papo, até porque não iria conseguir manter esta tese por muito tempo. Eu não
sabia realmente decifrar o enigma que me fora proposto.
Os muitos
anos de advocacia, contudo, me deu experiência e a cara de pau necessária para
falar sobre assuntos que não entendo, com a autoridade de um expert. O chamado
“enrolation jurídico”.
Mas, se o
João tivesse ficado satisfeito, não seria o João.
– Pai,
ou a pessoa pode morrer ou não pode. Se puder morrer, seja morta por alguém,
seja por doença ou velhice, ela é Mortal, assim como nós. Se não puder morrer
de jeito nenhum é Imortal, assim como eu pensava que eram os Deuses. Porque se
um Deus pode morrer, ainda que assassinado por outro, então ele não é Imortal.
Agora o
silêncio foi meu. Xeque-mate. Game Over. The end.
- Se você já sabia a resposta, por que me perguntou
?
- Porque eu não entendo por que que chamam
os Deuses de Imortais.
É. Se
entendesse, não seria o João.
Paloma
Arnaldo
era um sujeito meio perturbado. Houve época em que ele fazia tudo cronometrado,
na parte da manhã.
Acordava
às sete horas, tirava água do joelho, lavava o rosto, tomava o café com o pão
francês dormido (acordado na chapa quente) com manteiga, abria a porta de casa,
pegava o jornal largado no capacho, e com a parte de esportes ia para o
banheiro dar a sua barrigada matinal. Escovava os dentes, tomava banho, se vestia
e saía para o trabalho.
Tudo isso
durava quarenta e cinco minutos. Porque às sete e quarenta e cinco ele já tinha
que estar sentado no banco da portaria do prédio.
E a razão
era simples: por volta das sete e cinquenta, saía do elevador sua Afrodite Humanizada:
a vizinha do 901.
Ela levava
algo em torno de 10 segundos para desfilar do elevador até a porta social. Os
dez segundos mais importantes do dia do Arnaldo.
Ele entrava
em uma espécie de transe. Ela era toda perfeitinha.
Seu perfume
enlouquecia o pobre do Arnaldo, seus cabelos negros, que eram jogados de um
lado para o outro, bofeteavam sua face; seu rosto de feições finas e lábios
grossos se coadunavam com o corpo bem feito, cujos pilares eram um par de
pernas de fazer inveja a qualquer Cláudia Raia.
Quando ela
passava por ele e sua voz rouca balbuciava um “bom-dia”, era o ápice daquele momento
supremo, que tinha seu grand finale,
na apreciação de seus glúteos redondos e firmes que pareciam lhe dizer adeus.
E então
Arnaldo estava preparado para enfrentar mais um dia de seu tedioso trabalho
numa editora, onde revisava textos chatíssimos de livros de autoajuda.
Arnaldo
fantasiava sobre sua musa. Sabia que seu nome era Paloma. O simples som da
palavra Paloma já lhe parecia uma explosão de libido.
Só havia
uma mulher no mundo que seria capaz de fazer Arnaldo esquecer a vizinha do 901:
a Angelina Jolie. Mas como essa já era casada com o Brad Pitt, preferia
concentrar suas energias na Paloma.
E por dois
anos, Arnaldo cumpriu o ritual acima, cultivando seu amor platônico, e pensando
num plano para conquistar sua Deusa.
Até que...
Numa
certa manhã de setembro, Paloma não saiu do elevador.
Nem na
manhã seguinte. Nem no mês seguinte.
Paloma
simplesmente desapareceu.
Nosso
herói entrou em depressão profunda. Retiraram o alimento de sua alma.
E a vida
lhe pareceu desnecessária.
Três finais possíveis para esta história.
Primeiro:
Arnaldo escreveu um livro de autoajuda explicando como superar a perda de um
grande amor. O livro virou Best Seller Internacional.
Numa
noite de autógrafos em Nova York, foi surpreendido com a própria Angelina Jolie
lhe pedindo uma dedicatória.
Foi amor
à primeira vista. Ela deu um pé na bunda do Brad Pitt, e encontrou em Arnaldo o
grande amor da sua vida.
Arnaldo e
Angelina adotaram um casal de crianças desnutridas da Etiópia e foram felizes
para sempre.
Segundo: vinte
anos depois, Arnaldo, agora um coroa inteirão (encontrou na musculação um
refúgio para esquecer sua desilusão amorosa) e pegador (terror das menininhas
do bairro), é abordado no supermercado por uma baranga de meia idade, que
parecia ter fugido de um filme de terror.
- Olá ?
Você lembra de mim ?
- Não.
- Eu sou
a Paloma, nós morávamos no mesmo prédio, há cerca de 20 anos atrás. Você era o
cara que diariamente se sentava no banco da portaria, e esperava eu passar,
para olhar minha bunda.
- Olha
minha senhora, me desculpe, mas isso não é do meu feitio. A senhora com certeza
está me confundindo com outra pessoa. E com licença que o pãozinho francês tá
acabando.
Arnaldo
saiu correndo com seu carrinho de compras sem olhar pra trás. E nunca mais
voltou naquele supermercado.
Terceiro:
após cinco anos de terapia, Arnaldo descobriu que a tal Paloma nunca existiu.
Telmo, o analista,
concluiu que tudo foi fruto de sua imaginação, uma carência amorosa. Os textos
de autoajuda que revisava e os filmes da Angelina Jolie que assistia, projetava
em sua mente uma mulher perfeita que nunca existiu. Somente em seu
subconsciente perturbado e carente.
Aliás não
existia nem apartamento 901. O prédio só tinha 8 andares.
Respostas
No alto
da montanha me isolo, e tento entender o que não compreendo.
Procuro
respostas escondidas em algum lugar do qual não me lembro.
Estudo,
mas não aprendo.
Lá
embaixo, pessoas correm, mas não saem do lugar.
Feridas
se curam para depois novamente sangrar.
Os
semblantes fechados, não parecem gostar,
Do
trabalho, da vida, da alma, do lar.
Palavras
são proferidas, muitas das vezes sem se pensar.
Raras são
de compreensão. Raras tentam consolar.
Normalmente
são de explosão. Procurando alguém para culpar.
Por algo
tão pequeno, que não deveríamos nos importar.
Lá de
cima, vejo todos fazendo tudo sempre igual.
Vejo absurdos
encarados como coisa normal.
Valores
são invertidos, tudo muito natural.
Ninguém
se espanta, ninguém se insurge, deixa pra lá, não faz mal.
E assim
vou procurando as tais respostas, que ainda hei de encontrar.
No
silencio esclarecedor, sob a luz do luar.
Observando
a semente que luta, para planta virar.
Num
filhote de tartaruga, que por instinto, corre para o mar.
No
sorriso de uma criança, quando aprende a caminhar.
Na paixão
de uma guria, revelada no brilho de seu olhar.
No alto
da montanha, recarrego as energias e renovo a esperança.
E crio
coragem para de lá saltar.
Para
quando, finalmente, lá embaixo aterrissar,
A
tempestade já tenha se afastado, e o sol já tenha voltado a brilhar.
E talvez, um dia, eu encontre as respostas, que
insistem em me abandonar.
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