quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Minha Manoela

A vida às vezes nos dá um presente.
E quando ganhei este fiquei muito contente.
Enquanto os anjos do céu festejavam sua chegada com euforia,
Meu coração pulsava de alegria.

O nosso reencontro já estava escrito em algum lugar.
Talvez nas estrelas. Talvez na areia do mar.
E com a benção do Nosso Senhor,
Abracei minha  pequena menina com muito amor.

Difícil foi escolher o nome dela.
Poderia ter sido Gabriela. Ou Isabela.
Mas quis o destino que se chamasse Manoela.
Às vezes Manu, mas pra sempre Manoela.

E a minha pequena é a princesa mais bela.
No meu reino ninguém brilha mais do que ela.
Branca como a neve, linda como uma flor.
Moleca sapeca, pra sempre meu amor.

Aos anjos do céu me dirijo em oração,
Rogando sempre pela sua proteção.
E se os percalços da vida lhe afligirem o coração,
Cá estará o paizinho, sempre pronto a segurar sua mão.

E nenhuma poesia, ainda que seja a mais bela,
Expressará o tamanho do amor que sinto pela minha Manoela.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Em algum lugar do passado

Em algum lugar do passado, ficaram palavras e canções.
 
Algo que deveria ser dito restou prisioneiro, numa boca que não se abriu.
Palavras silenciaram e rugas de preocupação nasceram, num rosto que não sorriu.
 
Em algum lugar do passado, morreram histórias e civilizações.
 
Estrelas se apagaram e o céu, de luto, ficou de mal.
Livros perderam as páginas, deixando os contos sem final.   
 
Em algum lugar do passado, imagens e rostos foram esquecidos.

Pássaros migraram, mas não regressaram.
E rastros perdidos, no caminho deixaram. 
 
Em algum lugar do passado, decisões e caminhos foram escolhidos.

E então, restaram enterrados, lugares não visitados.
Mares não navegados. Objetivos não alcançados.
 
Em algum lugar do passado, amores ficaram desconhecidos.

Nas páginas do livro que não foi lido.
Na letra da canção que não foi ouvida.
Na carta de amor que não foi escrita.
No sonho que não foi vivido.
 
Em algum lugar do passado, o presente foi formulado.

Com todos os acertos e erros, que não conhecíamos no passado.
 
E então, quando olho para o futuro, volto ao passado, e me deparo com o presente.

E tenho a sensação de que, por conta do presente, muito se perderá, lá na frente.

Palavras, canções, histórias e civilizações.
Imagens, rostos, caminhos e decisões.
Amores, sonhos, cartas e paixões.
 
Tudo ficará perdido ou abandonado, em algum lugar do passado. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Advérbio de Negação


Não corra.
Talvez alguns minutos não façam tanta diferença.

 
Não fique parado.
De fato, nada cai do céu.


Não se empolgue.
A frustração existe e tá aí pra isso mesmo.


Não pense que nada presta
Sempre há alguma coisa que pode ser útil.

 
Não desanime.
Vai que um dia a sorte resolva lhe sorrir.

 
Não se deixe enganar.
Pense. Você não é um robô.


Não discrimine o que você não conhece. Se informe.
Se não concordar, respeite.


Não se entregue.
Morra tentando.


Não perca a esperança.  
Vai haver sempre alguém para lembrar que ela é a última que morre.


Não chore. Pelo que não vale a pena.
Se for ajudar, chore. De preferência, no colo de alguém que te ama.


Não brigue. Converse.
Se não der, silencie.
 

Não diga nunca.
O mundo dá voltas.


Não escreva. Leia.
Não leia. Escreva.


"Não posso, não sei, não sou capaz."
Não se subestime.


"Não vai dar certo."
Não seja pessimista. As chances são de 50%.

 
Não perca seu tempo.
Viva.

 
E antes de dizer não, reflita.
De repente, quem sabe.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Real Madrid


A mulher andava de um lado para o outro do quarto, trocando de roupa sem parar. Nenhuma lhe agradava. Até que parou num vestido colado no corpo listrado de preto e branco.
 

O marido, sentado no sofá da sala, assistia a uma partida de futebol na TV. Seu time, o Real Madrid, jogava contra o Valencia. Mas, vendo o tira e põe de roupa de sua patroa, começou a ficar preocupado.
 

Então, aquilo que ele tanto temia aconteceu. A mulher se dirigiu até a sala e fez a pergunta maldita:

- Amor, este vestido está bom ?
 

Quem é homem (notadamente casado) sabe.


Nenhuma, absolutamente nenhuma resposta que se dê a essa pergunta, será satisfatória. Na verdade ela deveria ser proibida em algum Estatuto, Lei, Constituição Federal, sei lá.
 

O Padre deveria advertir sobre isso nos cursos de Noivos. Ou deveria ter constado lá na Tábua dos Dez Mandamentos (que virariam onze): “Jamais perguntarás ao marido se a roupa está boa.”
 

Sim, porque isto não é uma pergunta: É uma declaração de guerra ! Tá chamando pra briga. É como quem diz: escolha suas armas!
 

O tempo parou naqueles breves segundos que se sucederam a pergunta. O cérebro do marido pôs-se a funcionar na velocidade de um Fórmula 1, para tentar encerrar rápido aquilo que poderia ser o início do fim. Rezando a todos os Santos para que a resposta fosse satisfatória, disparou:

- Tá linda, amor !
 

Poderia ter dado certo. Mas não foi o caso. 
 

- Mas você é um cretino mesmo. Como pode me dizer isto se nem me olhou ! Não tirou os olhos da TV nem um instante. Não pode parar um segundo de ver este maldito jogo de futebol, para olhar sua esposa. Eu sei que você só disse isso para me dispensar logo e continuar a ver essa porcaria de futebol.


A resposta teria sido razoável. Se o marido não tivesse cometido este pequeno deslize. Esqueceu de olhar para ela. Mas, se tivesse olhado, faria alguma diferença ? A resposta não teria que ser a mesma ? Se ele tivesse olhado e dito a verdade, que ela parecia um boneco de neve vestido de presidiário, não teria sido muito pior ? O suor começou a brotar em sua testa.


Agora, já olhando para ela, tentou consertar a situação.

- Meu bem, eu não preciso nem te olhar pra saber que você fica linda de qualquer jeito.
 

Pronto. Agora acabou mesmo. Foi piegas demais. Foi falso demais. Foi ruim demais.

- Você não me ama mais. Aliás, acho que você nunca me amou. Vou agora mesmo fazer as malas. Estou saindo de casa. Nosso casamento acabou. E a culpa é sua !
 

Enquanto a mulher fazia as malas, o marido continuou sentado no sofá, assistindo ao jogo. O Real Madrid precisava vencer, senão o título do campeonato seria conquistado pelo Barcelona, com duas rodadas de antecedência. Isso no momento era o que importava para ele.


De repente, uma questão passou pela sua cabeça. Aonde a mulher iria com aquele vestido de presidiária, antes de resolver terminar com ele ?


Quando a mulher chegou na sala se despedindo, com duas malas e o travesseiro, ele resolveu, então, lhe perguntar.

- Eu ia ao mesmo lugar que vou agora. Para a casa de meu amante. Só que antes eu ia lá só dar umazinha. E depois estaria de volta. Agora, por sua culpa, não voltarei mais. Você não me deu escolha.
 

A ex-mulher foi embora. O Real Madrid abriu o placar.
 

O ex-marido deu um sorriso de canto de boca. As coisas pareciam estar começando a dar certo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Deuses Mortais - Um diálogo entre pai e filho

No caminho para a natação, João fez uma pergunta. Que se transformaram em outras, sei lá, dez. Claro, senão não seria o João.

Começou assim:
  - Pai, eu tenho uma pergunta. Os Deuses não são imortais ?
  - Sim.
  - Então como é que iam matar o Odin, enquanto ele dormia ?
  - Matar quem ?
  - Odin, o pai do Thor.
  - Bom, quando ele está no chamado “Sono de Odin”, fica vulnerável, aí seus inimigos aproveitam para tentar matá-lo.
 
Ou seja, dei uma enrolada. Torci para que a resposta fosse satisfatória, mesmo sabendo que não tinha respondido sua pergunta. Foi o que, às oito horas da manhã, deu para responder.
Mas, se assim o fosse, não seria o João.
 
  - Pai, você não respondeu minha pergunta.
  - Você perguntou COMO iam matar o Odin, e eu respondi.
  - Não, pai, eu quero saber como iam matar alguém que não pode morrer.
 
Exato. Como é que eu nunca havia pensado nisso antes. E agora, o que dizer ? Como bom capricorniano, não me dei por vencido, apesar de um simples “não sei” parecer o caminho mais rápido para ter encerrado a discussão.
 
   - João, é o seguinte, eles são imortais se ninguém conseguir matá-los.
   - Então, eles morrem ?
   - Sim, se conseguirem matá-los.
   - Então, eles não são imortais.
   - Se os matarem, não. Se não os matarem, são imortais.
 
O silêncio que se seguiu me encheu de esperança de ter conseguido encerrar o papo, até porque não iria conseguir manter esta tese por muito tempo. Eu não sabia realmente decifrar o enigma que me fora proposto.
 
Os muitos anos de advocacia, contudo, me deu experiência e a cara de pau necessária para falar sobre assuntos que não entendo, com a autoridade de um expert. O chamado “enrolation jurídico”.
Mas, se o João tivesse ficado satisfeito, não seria o João.
 
  – Pai, ou a pessoa pode morrer ou não pode. Se puder morrer, seja morta por alguém, seja por doença ou velhice, ela é Mortal, assim como nós. Se não puder morrer de jeito nenhum é Imortal, assim como eu pensava que eram os Deuses. Porque se um Deus pode morrer, ainda que assassinado por outro, então ele não é Imortal.
 
Agora o silêncio foi meu. Xeque-mate. Game Over. The end.
 
 - Se você já sabia a resposta, por que me perguntou ?
 - Porque eu não entendo por que que chamam os Deuses de Imortais.
 
É. Se entendesse, não seria o João.    

Paloma

Arnaldo era um sujeito meio perturbado. Houve época em que ele fazia tudo cronometrado, na parte da manhã.
 
Acordava às sete horas, tirava água do joelho, lavava o rosto, tomava o café com o pão francês dormido (acordado na chapa quente) com manteiga, abria a porta de casa, pegava o jornal largado no capacho, e com a parte de esportes ia para o banheiro dar a sua barrigada matinal. Escovava os dentes, tomava banho, se vestia e saía para o trabalho.
 
Tudo isso durava quarenta e cinco minutos. Porque às sete e quarenta e cinco ele já tinha que estar sentado no banco da portaria do prédio.
 
E a razão era simples: por volta das sete e cinquenta, saía do elevador sua Afrodite Humanizada: a vizinha do 901.
 
Ela levava algo em torno de 10 segundos para desfilar do elevador até a porta social. Os dez segundos mais importantes do dia do Arnaldo.
 
Ele entrava em uma espécie de transe. Ela era toda perfeitinha.
 
Seu perfume enlouquecia o pobre do Arnaldo, seus cabelos negros, que eram jogados de um lado para o outro, bofeteavam sua face; seu rosto de feições finas e lábios grossos se coadunavam com o corpo bem feito, cujos pilares eram um par de pernas de fazer inveja a qualquer Cláudia Raia.

Quando ela passava por ele e sua voz rouca balbuciava um “bom-dia”, era o ápice daquele momento supremo, que tinha seu grand finale, na apreciação de seus glúteos redondos e firmes que pareciam lhe dizer adeus.
 
E então Arnaldo estava preparado para enfrentar mais um dia de seu tedioso trabalho numa editora, onde revisava textos chatíssimos de livros de autoajuda.

Arnaldo fantasiava sobre sua musa. Sabia que seu nome era Paloma. O simples som da palavra Paloma já lhe parecia uma explosão de libido.

Só havia uma mulher no mundo que seria capaz de fazer Arnaldo esquecer a vizinha do 901: a Angelina Jolie. Mas como essa já era casada com o Brad Pitt, preferia concentrar suas energias na Paloma.

E por dois anos, Arnaldo cumpriu o ritual acima, cultivando seu amor platônico, e pensando num plano para conquistar sua Deusa.
 
Até que...
 
Numa certa manhã de setembro, Paloma não saiu do elevador.
Nem na manhã seguinte. Nem no mês seguinte.
Paloma simplesmente desapareceu.

Nosso herói entrou em depressão profunda. Retiraram o alimento de sua alma.
E a vida lhe pareceu desnecessária. 
 

Três finais possíveis para esta história.
 
Primeiro: Arnaldo escreveu um livro de autoajuda explicando como superar a perda de um grande amor. O livro virou Best Seller Internacional.

Numa noite de autógrafos em Nova York, foi surpreendido com a própria Angelina Jolie lhe pedindo uma dedicatória.

Foi amor à primeira vista. Ela deu um pé na bunda do Brad Pitt, e encontrou em Arnaldo o grande amor da sua vida.

Arnaldo e Angelina adotaram um casal de crianças desnutridas da Etiópia e foram felizes para sempre.
 
Segundo: vinte anos depois, Arnaldo, agora um coroa inteirão (encontrou na musculação um refúgio para esquecer sua desilusão amorosa) e pegador (terror das menininhas do bairro), é abordado no supermercado por uma baranga de meia idade, que parecia ter fugido de um filme de terror.
 
- Olá ? Você lembra de mim ?
- Não.
- Eu sou a Paloma, nós morávamos no mesmo prédio, há cerca de 20 anos atrás. Você era o cara que diariamente se sentava no banco da portaria, e esperava eu passar, para olhar minha bunda.
- Olha minha senhora, me desculpe, mas isso não é do meu feitio. A senhora com certeza está me confundindo com outra pessoa. E com licença que o pãozinho francês tá acabando.
Arnaldo saiu correndo com seu carrinho de compras sem olhar pra trás. E nunca mais voltou naquele supermercado.

Terceiro: após cinco anos de terapia, Arnaldo descobriu que a tal Paloma nunca existiu.
 
Telmo, o analista, concluiu que tudo foi fruto de sua imaginação, uma carência amorosa. Os textos de autoajuda que revisava e os filmes da Angelina Jolie que assistia, projetava em sua mente uma mulher perfeita que nunca existiu. Somente em seu subconsciente perturbado e carente.

Aliás não existia nem apartamento 901. O prédio só tinha 8 andares.

Respostas

No alto da montanha me isolo, e tento entender o que não compreendo.
Procuro respostas escondidas em algum lugar do qual não me lembro.
Estudo, mas não aprendo.

 
Lá embaixo, pessoas correm, mas não saem do lugar.
Feridas se curam para depois novamente sangrar.
Os semblantes fechados, não parecem gostar,
Do trabalho, da vida, da alma, do lar.

 
Palavras são proferidas, muitas das vezes sem se pensar.
Raras são de compreensão. Raras tentam consolar.
Normalmente são de explosão. Procurando alguém para culpar.
Por algo tão pequeno, que não deveríamos nos importar.

 
Lá de cima, vejo todos fazendo tudo sempre igual.
Vejo absurdos encarados como coisa normal.
Valores são invertidos, tudo muito natural.
Ninguém se espanta, ninguém se insurge, deixa pra lá, não faz mal.

 
E assim vou procurando as tais respostas, que ainda hei de encontrar.

 
No silencio esclarecedor, sob a luz do luar.
Observando a semente que luta, para planta virar.
Num filhote de tartaruga, que por instinto, corre para o mar.
No sorriso de uma criança, quando aprende a caminhar.
Na paixão de uma guria, revelada no brilho de seu olhar.

 
No alto da montanha, recarrego as energias e renovo a esperança.

 
E crio coragem para de lá saltar.
Para quando, finalmente, lá embaixo aterrissar,
A tempestade já tenha se afastado, e o sol já tenha voltado a brilhar.

 
E talvez, um dia, eu encontre as respostas, que insistem em me abandonar.