Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Fernando Pessoa)
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epifania
quero ser
não quero ter
quero desejar
não quero o poder
quero a quietude da alma
a felicidade pintada na tela
o sorriso divino da menina mais bela
quero a canção eterna
pra um coração que espalma
a dor que consterna
o sopro que acalma
quero o silêncio em pranto
a boca muda
a pele desnuda
a página em branco
quero o querer em pedaços
cortado em fatias
no meio, espaços
recheados com doce de leite
um doce deleite
eu quero
eu quero o sonho
da viagem mais bela
do gosto do beijo dela
da música que toca a alma
eu quero imaginar a paisagem
da janela, o carinho que acalma
não quero o choro
quero a lágrima interna
no brotar da nascente
que seca antes do sol poente
e de enrugar minha testa
não quero festa
quero festejar meu pranto
espantar meu espanto
curar a demência do que
não faz sentido, eu quero o proibido
a libido, eu não quero rir
do que não tem graça
nem sentar na praça e esperar a vida
não quero comida nem bebida
eu quero a fome e a sede
nada de rede nem de banho quente
a vida que me siga
pois eu vou em frente
e é pra frente que eu vou
eu nada tenho e apenas sou