Rosalva era uma mulher linda. O Chico que o diga. Dois anos dando em cima dela, e nada!
Mas, finalmente, suas cantadas começaram a surtir efeito.
Descobriram que tinham algo em comum: a culinária. Esse gosto pela arte de cozinhar acabou unindo os dois. Combinaram, então, dois jantares, um cada casa, começando pela do Chico.
Era a grande chance dele, enfim, de mostrar para os colegas de trabalho, que sua batalha pela funcionária mais bonita da empresa não fora em vão. E as aulas de culinária que resolveu fazer num dado momento da vida, também não.
Lógico que ele não poderia decepcionar. Optou, então, em preparar a sua especialidade: strogonoff de camarão com batata sotê. Um vinho branco italiano para acompanhar e, como sobremesa, profiteroles com sorvete de creme.
Sem erro. A noite foi agradável e seu prato um sucesso. Rosalva adorou. Só teve um porém. Aproveitando o momento em que ela já estava mais "altinha" - efeito do vinho - o Chico tentou chegar junto. Sem êxito. Mas nada estava perdido, pois ela apenas pediu para ele esperar até o jantar da casa dela.
Os colegas do escritório vibraram com a história. E aguardaram tão ansiosos quanto o Chico, pela tal noite. Será que ia rolar?
Ao chegar na casa de Rosalva, nosso herói ficou louco: ela usava um vestido com uma fenda que ia até a... deixa pra lá. O jantar seria à luz de velas. E o prato, um escondidinho de carne seca.
Chico começou a comer. O creme estava uma delícia, mas ele já estava na metade do prato e nada da carne seca. A comida acabou e, que diabos, cadê a carne seca?!
Quando Rosalva indagou se estava bom e se ele queria repetir, é claro que ele disse sim, que estava ótimo, e queria mais. Mas nem uma palavra sobre a estranha falta da carne seca.
O segundo prato, após uma busca incessante por um fiapinho qualquer da danada, acabou, sem nenhuma pista dela.
Chico não se aguentou:
- Querida, muito bom o seu escondidinho. Só tenho uma dúvida, assim, bem pequena. Enquanto eu comia, eu imaginava onde é que poderia ter ido parar a carne seca.
- Chico, o prato é escondidinho de carne seca. Você acha que eu ia dar esse mole de esconder a carne seca no escondidinho?
- Ela não está no escondidinho?
- Claro que não.
- Então... cadê ela?
- Escondida, ué!
- Em algum lugar, que não no escondidinho? É isso?
- Sim.
Chico se levantou da mesa, agradeceu o jantar, se despediu e foi embora.
Os colegas de trabalho ficaram pasmos com a história. E apoiaram o Chico. Realmente, uma mulher que esconde a carne seca do escondidinho de carne seca em outro lugar, que não no escondidinho, não merece muita confiança.
O que essa mulher não seria capaz de esconder de um homem.